Embora zika, dengue e chikungunya sejam arboviroses transmitidas pelo mesmo vetor – o mosquito Aedes aegypti–, a primeira se diferencia das outras duas não apenas por sua relação com casos de microcefalia, mas também por apresentar transmissão sexual.

“Como as mulheres em idade reprodutiva são infectadas tanto pelo mosquito quanto pelos parceiros, o resultado é que temos muito mais casos de zika em mulheres do que em homens”, afirmou Flavio Codeco Coelho, professor da Fundação Getúlio Vargas, ao Medscape.

O biólogo especializado em engenharia biomédica desenvolveu modelos matemáticos que confirmam que a transmissão sexual teve importante papel na epidemia de zika no Rio de Janeiro ocorrida entre 2015 e 2016[1]. Durante apresentação no STI & HIV World Congress, evento realizado entre 9 e 12 de julho na capital fluminense, Flavio expôs dados de seu estudo, que comparou a incidência ajustada por idade de zika e dengue entre homens e mulheres. O trabalho foi feito em conjunto com pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, Fundação Oswaldo Cruz e Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

Entre 2015 e abril de 2016, foram registrados 29.301 casos suspeitos de zika pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, sendo 20.315 em mulheres e 8.986 em homens. No mesmo período, foram notificados 102.754 casos de dengue, dos quais 46.305 foram em homens e 56.449 em mulheres[1].

Os pesquisadores calcularam as incidências por grupo etário, removendo as gestantes. Análise de regressão apontou uma incidência de zika significativamente maior para mulheres sexualmente ativas: houve 90% mais casos registrados por 100.000 mulheres do que em homens na faixa de 15 a 65 anos de idade. No entanto, esse padrão não se manteve para outros grupos etários (menor que 15 e maior que 65 anos).

A diferença observada, de acordo com o pesquisador, poderia ser gerada apenas por uma tendência de as mulheres buscarem mais atendimento médico do que os homens. Mas, se somente este fator estivesse envolvido, o mesmo padrão deveria ser observado para dengue, o que não foi verificado. Os dados de notificação de dengue de 2013 e de 2015 revelam que mulheres foram apenas 30% mais propensas a reportar a doença do que homens, o que estaria sim relacionado ao fato de o gênero feminino revelar maior cuidado com a própria saúde.

“Mas o aumento de mais de 90% observado para zika provavelmente é causado pela transmissão sexual”, afirmou o cientista.

Sabe-se, segundo Coelho, que a transmissão sexual é mais provável de acontecer do homem para a mulher do que o contrário, pois o vírus aparece em grande quantidade no sêmen.

 “Isso significa que apesar de a mulher ser capaz de transmitir para o homem, há muito mais chance de o homem transmitir para a mulher”, explicou o biólogo, lembrando estudos recentes que detectaram cargas virais de Zika no sêmen de pacientes de dois a três meses após do início dos sintomas da infecção[2].

A importância da transmissão sexual foi verificada também em estudos colombianos. Em trabalho publicado no periódico Epidemics, a análise de casos de zika registrados em 2015 em Barranquilla (Colômbia) revelou que a transmissão sexual foi responsável por cerca de 47% das ocorrências[3].

A modelagem baseada em evidências usada na pesquisa de Coelho é uma ferramenta que vem contribuindo para revelar parâmetros que não são observáveis diretamente. Mas ainda há muitas questões a serem investigadas. Para o pesquisador, são necessários mais estudos para conhecer melhor a dinâmica da infecção.

“Ainda não é possível saber qual o impacto da transmissão sexual em longo prazo. Precisamos investigar outras áreas nos próximos anos para tentar entender melhor esse aspecto. Os dados atuais ainda não permitem quantificar de forma precisa a contribuição da transmissão sexual”.

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF de Tireoide e Mama

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