O termo fake news significa “notícias falsas”: informações que não representam a realidade, mas são compartilhadas nas redes sociais e na internet como se fossem verídicas. As consequências são desastrosas, uma vez que o objetivo das fake news é criar uma polêmica em torno de uma situação sem a veracidade e a seriedade necessárias.
As fake news também são utilizadas por profissionais que abusam na difusão de conceitos e tratamentos sem comprovação científica a fim de iludir a população. Além do dano ao cidadão, o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) também sofre com os malefícios causados pelas falsas notícias.
Entre exemplos de fake news, destacam-se propostas terapêuticas já comercializadas, mas que não possuem a robusta evidência científica para determinadas indicações ou baseadas em conceitos absurdos. Várias dessas propostas mimetizam estelionato e trazem consigo risco de adoecimento a curto, médio ou longo prazo.
Outro exemplo são os profissionais que se posicionam contra a vacina. Baseiam-se em falaciosos conceitos para propagar o mal à humanidade. Há também aqueles que prescrevem fórmulas emagrecedoras ou termogênicas que contêm substâncias com elevado risco de danos ao organismo. Outros tampouco hesitam em prescrever anabolizantes em pacientes jovens com o intuito de fazê-los emagrecer e modular o corpo, mas escondendo os efeitos nefastos que esse paciente pode sofrer em seu sistema cardiovascular, testículos, rins e fígado. O pior é que as consequências podem se manifestar muitos anos após o uso desses medicamentos.
Neste momento, o uso abusivo de suplementos alimentares para aumento de massa muscular é cada vez mais incentivado pelas fake news. Há estudos que demonstram que diversos suplementos contêm substâncias tóxicas, como o Chá Verde, a Garcínia e até mesmo anabolizantes. Os suplementos proteicos têm potencial de causar dano renal, e o prescritor geralmente esconde isso do usuário.
Diante dessa calamitosa situação, é necessária uma legislação mais robusta para punir as fake news, assim como uma legislação regulatória específica para fitoterápicos e suplementos alimentares no sentido de exigir, antes da sua comercialização, estudos que garantam os benefícios expostos nos seus rótulos.
Na atualidade, o lucrativo mercado das fake news vende produtos bons para aqueles que os indicam e os comercializam, mas com potenciais prejuízos para os usuários.

 

Fonte Gen

Autor: Raymundo Paraná

O uso profilático de antimaláricos no COVID-19 pode limitar o fornecimento global de cloroquina e hidroxicloroquina para outras indicações.

Os primeiros resultados clínicos sugerem que os medicamentos antimaláricos cloroquina (CQ) e hidroxicloroquina (HCQ) são promissores para pacientes com pneumonia por COVID-19. Agora eles estão incluídos nas diretrizes chinesas para o gerenciamento do COVID-19.

Experimentos in vitro mostram que a CQ é capaz de bloquear a replicação viral em uma concentração equivalente à alcançável em pacientes que recebem 500 mg / dia. O HCQ também diminui a replicação viral dependente do tempo e da dose. Tanto o CQ quanto a HCQ impedem a replicação viral no estágio inicial. Um estudo recente mostrou que, nas amostras nasofaríngeas, 70% dos pacientes tratados apenas com HCQ e 100% daqueles tratados com HCQ mais azitromicina tinham eliminação viral, em comparação com 12,5% sem HCQ.
Dois ensaios europeus em curso, avaliarão a eficácia do CQ / HCQ na profilaxia do COVID-19 em profissionais de saúde ou de significativo risco.
A administração de drogas em massa de CQ / HCQ é barata e bem tolerada. No entanto, é ético propor esses medicamentos como profilaxia sem base em evidências?
Se a profilaxia em massa for aceita como uma opção em todo o mundo, isso levanta a questão de saber se existe suprimento suficiente de CQ e HCQ para apoiar essa abordagem, potencialmente levando à escassez para aqueles que usam rotineiramente esses medicamentos, como pacientes com doenças reumáticas autoimunes.

 

Referências

Spinelli FR, Ceccarelli F, Di Franco M, Conti F. To consider or not antimalarials as a prophylactic intervention in the SARS-CoV-2 (Covid-19) pandemic . Ann Rheum Dis. Published Online 2 April 2020. doi:10.1136/annrheumdis-2020-217367

 

Um estudo canadense identificou um risco aumentado de aborto com o uso de cinco classes comuns de antibióticos no início da gravidez.
A pesquisa, publicada no Canadian Medical Association Journal (CMAJ), observou que o uso de macrolídeos (exceto por eritromicina), quinolonas, tetraciclinas, sulfonamidas e metronidazol durante a gravidez inicial estava associado a um risco aumentado de aborto espontâneo.
A exposição à nitrofurantoina não estava associada a um risco aumentado de aborto, o que sustenta seu uso como alternativa para trimetoprima-sulfametoxazol no tratamento de infecções do trato urinário durante a gestação. Azitromicina e metronidazol foram associados a um risco de aborto aumentado em 65% e 70%, respectivamente, enquanto sulfonamidas, tetraciclinas, quinolonas e claritromicina mais do que dobraram o risco.
Os resultados foram semelhantes independentemente de se usar penicilinas ou cefalosporinas como compradores.
Apesar de antibióticos terem sido usados no tratamento de infecções para reduzir o risco de prematuridade e de baixo peso ao nascimento em outros estudos, nossa investigação mostra que certos tipos de antibióticos estão aumentando o risco de aborto espontâneo em 60% ou em até duas vezes”, explicou a autora sênior, Dra. Anick Bérard.
Ela acrescentou que “não obstante, não foi observado um aumento do risco para todos os antibióticos, o que tranquiliza usuárias, prescritores e elaboradores de políticas”.
Duas vacinas em potencial contra o COVID-19 entraram na fase I de ensaios clínicos.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) tem colaborado com cerca de 40 desenvolvedores de medicamentos para o COVID-19. A agência publicou uma atualização sobre possíveis tratamentos e vacinas.
Entre os possíveis tratamentos para o COVID-19, os seguintes medicamentos que atualmente estão passando por ensaios clínicos de segurança e eficácia são:
O remdesivir – um medicamento antiviral em investigação desenvolvido inicialmente para os vírus Ebola e Marburg, também mostrou atividade antiviral contra outros coronavírus SARS e MERS.
Lopinavir / ritonavir (Kaletra) – atualmente autorizado como medicamento anti-HIV.
Cloroquina e hidroxicloroquina – atualmente autorizadas como tratamentos contra a malária e algumas doenças autoimunes.
Interferons sistêmicos – O interferon-beta atualmente autorizado para tratar a esclerose múltipla (e outros).
Anticorpos monoclonais com atividade contra componentes do sistema imunológico.
Duas vacinas em potencial contra o COVID-19 entraram na fase I de ensaios clínicos. 
A EMA estima que pode levar pelo menos um ano para que uma vacina contra o COVID-19 esteja pronta para aprovação e disponível em quantidades suficientes para atender às necessidades de todos os países da UE.
A EMA continuará a interagir com os desenvolvedores desses medicamentos. O aconselhamento aos desenvolvedores sobre os requisitos regulatórios facilitará a disponibilidade de novos medicamentos o mais rápido possível, através da definição de ensaios clínicos e do mercado subsequente.

 

Referências

Agência Europeia de Medicamentos. Atualização sobre tratamentos e vacinas contra COVID-19 em desenvolvimento. [Acessado em 31 de março de 2020]

Autoridades de saúde em todo o mundo estão sendo solicitadas a repensar a orientação oficial sobre a suplementação de vitamina D após a publicação de um estudo inovador, que mostrou que as vitaminas D2 e D3 não possuem o mesmo valor nutricional.
A orientação atual fornecida por diversas organizações governamentais em países ao redor do mundo indica que as duas formas de vitamina D são equivalentes e podem ser usadas com o mesmo efeito.
Neste novo estudo, os níveis de vitamina D de 335 mulheres no sul da Ásia e de mulheres caucasianas europeias foram avaliados durante dois invernos consecutivos. As mulheres foram divididas em cinco grupos, cada grupo recebendo placebo, um suco contendo vitamina D2 ou D3 ou um biscoito com D2 ou D3.
Os cientistas observaram que a vitamina D3 era duas vezes mais eficaz em elevar os níveis vitamínicos em comparação à D2. Os níveis de vitamina D em mulheres que receberam vitamina D3 no suco ou biscoito aumentaram em 75% e 74%, respectivamente, em comparação àquelas que receberam D2 pelos mesmos métodos. Aquelas que receberam D2 tiveram um aumento de 33% e 34% durante o período de intervenção de 12 semanas.
Aquelas que receberam placebo apresentaram uma redução de 25% nos níveis de vitamina D durante o mesmo período.

Referências

Lanham New, S and Tripkovic, L. Daily supplementation with 15 mg vitamin D2 compared with vitamin D3 to increase wintertime 25-hydroxyvitamin D status inhealthy South Asian and white European women: a 12-wk randomized, placebo-controlled food-fortification trial.’ American Journal of Clinical Nutrition. 2017 July 05. OI: AJCN/2016/138693.

Um grande e nova pesquisa descobriu que metade dos médicos e dentistas sênior na Nova Zelândia relatam sintomas de burnout, incluindo altos níveis de fadiga e stress. Um total de 42,1% de respondedores citam frustrações com a gerência, cargas de trabalho intensas e incessantes, número insuficiente de funcionários e sobreavisos onerosos como fatores contribuidores. Quase 16% atribuiu seu burnout especificamente às interações com os pacientes.

Mulheres têm maior probabilidade de apresentarem burnout (59,4%) comparadas às suas contrapartes masculinas (43,9%), sendo que mulheres entre 30 e 39 anos de idade são as mais afetadas. As menores taxas de burnout foram em respondedores com mais de 60 anos. As pontuações de burnout aumentaram concomitantemente com o aumento das horas trabalhadas por semana. A pesquisa realizada pela Associação de Médicos Especialistas Assalariados (Association of Salaried Medical Specialists, ASMS) na Nova Zelândia foi realizada entre 1.487 médicos e dentistas seniores.

A ASMS diz que, apesar de saber que o burnout afeta a qualidade do cuidado com os pacientes e aumenta o risco de erro médico, comentários feitos pelos profissionais que responderam à pesquisa sugere que, para a vasta maioria dos respondedores, a alta qualidade no cuidado dos pacientes é sua “raison d’être” e parece atuar como um protetor importante contra o burnout.

É hora de abandonar os inibidores da ECA na doença cardiovascular?

Há “pouco, se algum, motivo clínico” para usar inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) para o tratamento da hipertensão ou outras indicações cardiovasculares, pois os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) são tão eficazes quanto, com menos efeitos colaterais, conclui uma nova revisão. A revisão, publicada no Journal of American College of Cardiology em 3 de abril, foi conduzida pelo Dr. Franz Messerli, University Hospital de Berna (Suíça).

Dr. Messerli e colaboradores revisaram dados de 119 ensaios clínicos randomizados de inibidores da ECA e BRA em mais de meio milhão de pacientes, e não encontraram diferença na eficácia entre as duas classes de medicamentos em relação ao desfecho substituto da pressão arterial e nos desfechos de mortalidade por todas as causas, mortalidade cardiovascular, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC) e doença renal terminal.

Mas os inibidores da ECA têm uma maior incidência de reações adversas – tosse, risco muito baixo de angioedema, e mortes – que são mais prevalentes em pessoas de pele não branca, escrevem eles.

Apesar disso, a maioria das diretrizes para o tratamento de pacientes com doença cardiovascular recomenda os inibidores da ECA como terapia de primeira escolha, enquanto os BRAs são apenas considerados uma alternativa para os pacientes intolerantes aos inibidores da ECA, afirmam Dr. Messerli e colaboradores.

“Como a eficácia é semelhante, mas os eventos adversos são menos frequentes com os BRAs, a análise abrangente de risco-benefício indica que os médicos não têm mais qualquer razão válida para prescrever inibidores da ECA para o tratamento da hipertensão ou suas outras convincentes indicações. Provavelmente, os dados atuais irão arquivar rapidamente os inibidores da ECA na lista de drogas de interesse histórico”, disse o Dr. Messerli em um comunicado.

Medicação sagrada

Para o Medscape, ele acrescentou: “Desde o magnífico estudo HOPE em 2000, os inibidores da ECA se tornaram uma medicação sagrada. Os estudos originais em doença arterial coronariana (DAC) foram feitos com inibidores da ECA. Como esses estudos foram maiores, e as taxas de efeito placebo foram mais elevadas do que nos ensaios clínicos posteriores com BRA, foi mais fácil mostrar benefícios convincentes. Atualmente é parte da nossa cultura usar inibidores da ECA na doença coronariana”.

Mas, na verdade, os BRAs são igualmente eficazes e têm menos efeitos colaterais, acrescentou. “Alguns podem pensar que a tosse por inibidores da ECA é apenas um incômodo, mas ela pode fazer com que os pacientes continuem consultando o médico ou parem de usar o medicamento”, observou ele.

“O efeito colateral de angioedema, embora raro, pode ser fatal. E se os inibidores da ECA forem propostos como parte de uma apresentação com múltiplos medicamentos, milhões serão expostos e fatalidades ocorrerão. Espero que nosso trabalho faça com que os médicos pensem mais detalhadamente sobre isso”.

Especialistas contatados pelo Medscape tiveram reações variadas à revisão.

“Dr. Messerli e colaboradores conduziram uma revisão muito completa dos ensaios clínicos e estão certos ao afirmar que, de modo geral, não há evidência de que os inibidores da ECA sejam mais eficazes na redução da pressão arterial ou de desfechos cardiovasculares, e os BRAs têm menos efeitos colaterais”, disse o especialista em hipertensão Dr. Michael Weber, SUNY Downstate College of Medicine, de Nova York.

 “Ambos estão agora disponíveis genericamente e são, portanto, relativamente baratos, embora os inibidores da ECA ainda sejam um pouco mais baratos, o que fará a diferença em algumas comunidades”.

“Mas, mesmo que apenas 5% dos pacientes desenvolvam tosse e continuem consultando por causa disso, a pouquíssima economia financeira desaparece imediatamente”, acrescentou Dr. Weber. “Isso é particularmente relevante na Ásia, onde a tosse com inibidores da ECA ocorre mais frequentemente, e na África, uma vez que o angioedema é mais comum em negros”.

O especialista em insuficiência cardíaca Dr. John McMurray, da University of Glasgow (Reino Unido), observou que os inibidores da ECA foram testados na insuficiência cardíaca em ensaios clínicos antes de os BRA estarem disponíveis, e se mostraram capazes de reduzir a mortalidade.

 “Consequentemente, foi difícil, posteriormente, fazer um ensaio controlado por placebo com um BRA na insuficiência cardíaca”.
 Ele disse que, em geral, os ensaios com BRA não deram uma demonstração tão clara de benefício quanto os estudos anteriores com inibidores da ECA, “então os inibidores da ECA permanecem preferidos na insuficiência cardíaca”. Mas, ele acrescentou: “Atualmente está claro que na insuficiência cardíaca, a adição de um inibidor da neprilisina a um BRA é melhor do que um inibidor da ECA (ou provavelmente um BRA) isolado”.

“Questão menor”

O pesquisador principal do estudo HOPE, Dr. Salim Yusuf, McMaster University, em Hamilton, Ontário (Canadá), comentou: “Se um inibidor da ECA ou um BRA deve ser usado é uma questão menor, desde que um ou outro seja usado em pessoas quem precisam deles”.

Ele concordou com o Dr. Messerli que a eficácia é provavelmente semelhante entre as duas classes de drogas, mas há menos tosse com BRA, e os inibidores da ECA podem causar o “muito raro angioedema (um por mil casos)”. Mas o Dr. Yusuf destacou que a principal diferença entre os BRAs e os inibidores da ECA é o custo.

“Isso pode importar menos para os 20% das pessoas que vivem nos países ricos, mas é muito importante nos 80% das pessoas em países de baixa e média renda”.

“Eu deixaria a escolha entre inibidor da ECA ou BRA para o clínico e para o paciente, de forma que seja feito uso da medicação com a qual ele se sentir confortável e que puder pagar em seu ambiente local”, disse ele.

Dr. Yusuf também destacou que a principal questão é controlar a pressão arterial em vez de se preocupar muito com os agentes específicos usados.

“Cerca de 80% dos pacientes com hipertensão no mundo não têm a pressão arterial controlada usando o limiar de pressão abaixo de 140 x 90 mmHg, e essa porcentagem é provavelmente maior se usarmos limiares ainda mais baixos. Essa é uma grande questão clínica e de saúde pública não atendida.

“Sugiro que gastemos mais tempo e esforços discutindo como podemos melhorar o controle da pressão arterial com baixo custo (combinação de baixas doses de duas ou três classes diferentes de drogas). Isso tem mais potencial de evitar muitas centenas de milhares de eventos cardiovasculares do que a discussão secundária de inibidor da ECA versus BRA”.

Dr. Messerli trabalhou como consultor ou conselheiro para Daiichi-SankyoPfizerAbbott VascularServierMedtronicWebMDMenariniIpcaHikmaAmerican College of CardiologyRelypsa e Sandoz.

J Am Coll Cardiol. Publicado on-line 3 de abril de 2018.

Na apresentação típica da adrenoleucodistrofia ligada ao X, as mutações de ABCD1 levam à perda da função da proteína ALD. A adrenoleucodistrofia cerebral caracterizase pela desmielinização progressiva do sistema nervoso central, de modo que a evolução da doença, que leva à perda de função neurológica e morte, só pode ser interrompida com o transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas.
Neste estudo, publicado no The New England Journal of Medicine, de segurança e eficácia, de fase 2-3, aberto e de braço único foram investigados meninos com adrenoleucodistrofia cerebral. Foi adotado como critério de inclusão os pacientes com doença em estágio inicial e aumento de gadolínio na ressonância magnética durante triagem. A terapia de investigação envolveu a infusão de células CD34+ autólogas transduzidas com vetor lentiviral (Lenti-D). Nesta análise preliminar, os pacientes foram avaliados quanto à ocorrência de doença de enxerto contra hospedeiro, morte e principais incapacidades funcionais, bem como alterações na função neurológica e na extensão das lesões na ressonância magnética. Foi considerado como endpoint primário o paciente vivo sem a presença de comprometimento funcional maior aos 24 meses após a infusão.
Os resultados desta análise preliminar contaram com a participação de 17 meninos que receberam terapia genética Lenti-D com seguimento médio de 29,4 meses (faixa de 21,6 a 42,0). A proteína ALD mensurável foi observada em todos os pacientes, bem como todos os pacientes apresentaram células marcadas por genes após o enxerto, sem evidência de integração preferencial próximo de oncogenes conhecidos ou crescimento clonal. Não foi observada morte relacionada ao tratamento ou doença de enxerto contra hospedeiro; 15 dos 17 pacientes (88%) estavam vivos e livres de comprometimento funcional maior, com sintomas clínicos mínimos. Os resultados também mostraram que um paciente, que teve deterioração neurológica rápida, morreu em razão da progressão da doença. Outro paciente, que tinha tido evidências de progressão da doença na ressonância magnética, retirou-se do estudo para se submeter ao transplante alogênico de células-tronco e mais tarde morreu por complicações relacionadas ao transplante.
Os pesquisadores concluíram que os resultados preliminares deste estudo sugerem que a terapia genética Lenti-D pode ser uma alternativa segura e efetiva ao transplante alogênico de células-tronco em meninos com adrenoleucodistrofia cerebral em estágio inicial. Os autores destacam, entretanto, que é necessário um acompanhamento adicional para avaliar completamente a duração da resposta e a segurança em longo prazo.Uma resenha de: Hematopoietic Stem-Cell Gene Therapy for Cerebral Adrenoleukodystrophy.
Autores: Eichler F, Duncan C, Musolino PL et al.

Entre 2010 e 2015, os custos estimados por doença cardiovascular (DCV) aumentaram 17% no Brasil. Esse dado foi divulgado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em estudo que utilizou informações dos sistemas de saúde público e privado, e que considerou custos diretos e indiretos.

A pesquisa, que sugere que os custos por DCV tendem a aumentar ainda mais nos próximos anos, em função do envelhecimento da população, foi publicada em junho nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia[1]. Autora da pesquisa, a Dra. Alessandra de Sá Earp Siqueira, que é cardiologista, analista de gestão pública do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e doutora em Clínica Médica, falou sobre o estudo ao Medscape.

Para reunir dados sobre mortalidade e morbidade (custos indiretos), os pesquisadores utilizaram o Sistema de Mortalidade Hospitalar (SIM) e os sistemas de Informações Hospitalares (SIH) e Ambulatoriais (SIA) do DATASUS. As duas últimas bases serviram também de fonte para estimar os custos diretos associados às DCVs, entre eles, gastos com tratamentos clínicos, cirúrgicos, internações, órteses, próteses ou materiais especiais. Informações sobre afastamentos temporários e/ou permanentes foram obtidas na base de dados da Previdência Social (DATAPREV), e dados do setor privado de saúde foram obtidos por meio da Agência Nacional de Saúde (ANS). Como nem todos os dados 2014 e 2015 estavam disponíveis no momento em que a pesquisa foi feita, os autores estimaram esses valores usando um cálculo de progressão linear.

Outras fontes de informação usadas na investigação foram estudos observacionais prévios, acessados pela base de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Durante os cinco anos analisados, a parcela de brasileiros com mais de 65 anos de idade aumentou 22%. Em 2015, os custos estimados por doença cardiovascular foram de R$ 37,1 bilhões de reais. Morte prematura por DCV representou 61% do total de custos para essa enfermidade, enquanto custos diretos com internações e consultas representaram 22%, e os custos com a perda de produtividade foram 15% do total.

Os custos estimados para DCV atrelados à morte prematura foram muito mais elevados do que a expectativa inicial da equipe, conta a Dra. Alessandra. O fato de os custos indiretos se mostrarem tão relevantes indica que as DCVs estão causando um ônus importante à sociedade.

Qualquer indivíduo que morre precocemente por uma doença, ou deixa de trabalhar por alguma condição médica, está causando também um ônus para a sociedade por não estar contribuindo, inclusive do ponto de vista financeiro”, diz ela, acrescentando que o grupo fez um cálculo simples para chegar ao impacto da mortalidade: “diminuímos da expectativa de vida do brasileiro o ano em que o indivíduo morreu pela DCV”.

Redução de aposentadorias por DCV indicam maior controle

A pesquisa mostrou também que o número de aposentadorias por DCV está diminuindo no país, enquanto a quantidade de benefícios concedidos por auxílio-doença relacionados a essa condição está aumentando. Esse resultado, segundo a pesquisadora, reflete o que os médicos têm observado nos últimos anos nos consultórios: embora as DCVs sejam muito prevalentes no país, são cada vez mais eventos agudos que fazem o indivíduo interromper a vida laboral temporariamente, mas que permitem que ele volte ao trabalho depois.

“Ainda há um número grande de aposentadorias concedidas, por exemplo, por insuficiência cardíaca ou por acidente vascular cerebral (AVC), mas já temos redução do número total de aposentadorias por invalidez relacionadas às DCVs, o que representa um resultado animador. Esse achado mostra que já estamos conseguindo ter um pouco mais de controle sobre as DCVs, pois o brasileiro está vivendo mais tempo com essa condição”, diz.
Essa dinâmica ainda não é uma realidade para outras doenças crônicas não-transmissíveis. A Dra. Alessandra desenvolveu estudo semelhante avaliando o impacto econômico do câncer no sistema de saúde brasileiro, usando um modelo baseado em dados dos serviços públicos. A pesquisa mostrou que tanto a quantidade de aposentadorias quanto a de auxílios-doença por neoplasia aumentou entre 2010 e 2015[2]. “Nesse caso, notamos que se trata de uma doença ainda sem controle, diferente das DCVs, em que já conseguimos ter redução das aposentadorias”, diz.

Transição epidemiológica

Entre os fatores que contribuíram para o crescimento dos gastos com DCVs no Brasil no período analisado, os custos com medicamentos foram os que mais aumentaram (88%), seguidos pelos custos da previdência social (66%) e da morbidade (33%).

Segundo a Dra. Alessandra, os custos em saúde com doenças crônicas não transmissíveis, incluindo DCV, vêm aumentando em todo o mundo. Os gastos são ainda maiores nos países desenvolvidos ou de alta renda. Por exemplo: atualmente o Brasil gasta cerca de 9,5% do produto interno bruto (PIB) per capita com saúde e, entre 2010 e 2015, o percentual médio do PIB gasto com doenças cardiovasculares foi de 0,7%. Já nos Estados Unidos mais de 17% do PIB per capita é gasto com saúde[3].

Conforme a população envelhece, a tendência é de que os custos com doenças crônicas não transmissíveis aumentem. “Em países mais pobres, nos quais ainda não aconteceu a transição epidemiológica – evolução progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosa para outro onde há predomínio de mortes por doenças crônico-degenerativas –, os gastos ainda são grandes com doenças infecciosas, como a diarreia infantil”, afirma a especialista.

Mas os gastos podem variar dentro de um mesmo país. “Tomando o câncer de mama como exemplo, notamos que essa neoplasia mata muito mais mulheres nas regiões Sul e Sudeste do que na Nordeste[4], onde ainda há grande mortalidade por doenças infecciosas. Estamos começando a ver agora o início da transição epidemiológica nessa área e, como consequência, está começando a ocorrer um aumento da mortalidade por doenças crônicas”, diz a médica.

As DCV podem ser consideradas como um grande desafio para a saúde pública mundial, assim como outras doenças crônicas não-transmissíveis. A Dra. Alessandra explica que o objetivo da pesquisa foi justamente tentar medir o impacto socioeconômico das doenças, a fim de embasar estratégias para minimizá-lo. “As informações ajudam pelo menos a discutir como os recursos estão sendo alocados, e em que nível de atenção. Precisamos estar sempre investindo em novas pesquisas, em novas tecnologias, mas é preciso avaliar se o estado de saúde da população está melhorando como um todo”, diz.

A pesquisadora acredita que é importante investir também em estratégias de promoção de saúde, e em medidas que incentivem a modificação de fatores de risco evitáveis. “Quando gastamos com saúde básica, ou investimos para que a pessoa se alimente melhor, faça atividade física, estamos também efetivamente reduzindo os custos do próximo passo, que são os tratamentos especializados”, afirma a médica.

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF
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SAN ANTONIO — Ioga é tão eficiente quanto a fisioterapia na redução da dor lombar crônica, a queixa álgica mais comum nos Estados Unidos, mostra uma nova pesquisa.

“Nosso estudo mostrou que a ioga foi não inferior à fisioterapia para um grupo diverso de pacientes de baixa renda, disse o Dr. Robert B. Saper, diretor de medicina integrativa, Boston Medical Center, Massachusetts. “Sua efetividade foi mais óbvia nos pacientes mais aderentes”.

O Dr. Saper apresentou seu estudo no Encontro Anual de 2016 da American Academy of Pain Management (AAPM). A AAPM recentemente mudou seu nome para Academy of Integrative Pain Management.

Pesquisas prévias mostraram que a ioga melhora a dor e a função e reduz o uso de medicação. Por exemplo, uma meta-análise de 2013 demonstrou efeitos leves a médios para a ioga na dor lombar, quanto à incapacidade relacionada a dor de curto e longo prazo. Pesquisas também mostraram que a fisioterapia é eficiente para tratar pacientes com dor lombar.

“Nós sabemos que a ioga é efetiva, sabemos que a fisioterapia é efetiva, mas não conhecíamos sua efetividade comparativa”, disse o Dr. Saper. “Para inserir uma prática complementar em saúde dentro do tratamento padrão, eu diria que, no mínimo, é preciso que essa terapia seja tão efetiva quanto a convencional, e que talvez ofereça outros benefícios, como custo-efetividade”.

A fisioterapia é considerada uma terapia convencional e é o tratamento não farmacológico mais comumente indicado por médicos para a dor lombar crônica, segundo o Dr. Saper. Cerca de 22% dos pacientes com dor lombar na atenção primária são encaminhados para fisioterapia.

Para esse novo estudo, os pesquisadores recrutaram 320 pacientes adultos de centros de saúde comunitária da área de Boston, que apresentavam dor lombar crônica sem uma causa anatômica óbvia, como estenose do canal medular. Os pacientes eram predominantemente não brancos e de baixa renda, com um nível educacional relativamente baixo.

Os pacientes apresentavam escores de dor lombar com pontuação “elevada” (média de 7 em 10 na escala de dor) e eram “bastante incapacitados” pela dor lombar, disse o Dr. Saper. Quase três quartos estavam utilizando medicamentos analgésicos, com cerca de 20% em uso de opioides.

“Não tivemos nenhum problema em recrutar pacientes porque as pessoas estão sofrendo com dor crônica e suas necessidades não estão sendo atendidas”, disse o Dr. Saper.

Os pacientes foram aleatoriamente inscritos em um de três grupos: ioga, fisioterapia ou educação.

Para desenvolver um protocolo estruturado de ioga, o Dr. Saper e colaboradores organizaram um encontro de especialistas, que revisaram a literatura sobre o assunto. O produto final foi uma aula semanal de 75 minutos com uma razão muito baixa de estudantes por professor.

As classes começavam com uma introdução curta sobre a filosofia da ioga (não violência, moderação, auto-aceitação). Os participantes receberam então esteiras para realizar posições simples de ioga e também receberam um DVD para praticá-las em casa.

Medo de lesões

Ao ser perguntado por um participante como ele encorajava pacientes com dor a se deitarem no chão quando muitos têm medo de se lesionar, o Dr. Saper contou que alguns pacientes tiveram dificuldade, especialmente os obesos. “Mas as aulas eram lentas e gentis; a primeira aula poderia ser apenas para levar as pessoas ao chão, com joelhos no tórax, ou em posição de mesa”.

O grupo da fisioterapia realizou 15 sessões individuais de 60 minutos que incluíam exercícios aeróbicos. Os fisioterapeutas e educadores físicos foram treinados para ajudar os pacientes a não sentirem medo. O grupo da educação recebeu um livro amplo sobre dor lombar.

As sessões de fisioterapia e ioga continuaram por 12 semanas, e a seguir os pacientes foram acompanhados por 52 semanas. Durante esse período pós-intervenção, os pacientes nos grupos de ioga e fisioterapia foram aleatoriamente inscritos para manutenção (continuar em aulas de ioga ou sessões de fisioterapia) ou apenas para prática domiciliar.

A aderência global não foi ótima. O número médio de sessões de ioga e fisioterapia cumpridas durante a fase inicial foi de sete.

A questão primária a ser avaliada foi se a ioga era não inferior à fisioterapia em 12 semanas. O estudo mostrou que para função (pontuação no Roland-Morris Disability Questionnaire), ioga e fisioterapia “foram exatamente iguais, ou seja, não inferioridade”, disse Dr. Saper, acrescentando que “eles não foram terrivelmente diferentes da educação em 12 semanas”.

No entanto, ao observar apenas aqueles pacientes que realmente foram às aulas de ioga, disse ele “nota-se que a ioga e a fisioterapia ainda foram bastante semelhantes, mas a diferença para a educação foi mais elevada”.

Os resultados foram semelhantes para pontuações de dor. “Observa-se que a ioga e a fisioterapia foram essencialmente o mesmo: um pouco melhor que a educação, mas muito melhor quando se avalia a análise por protocolo”.

Quanto à porcentagem de pacientes que tiveram uma redução de pelo menos 30%, “se você observar o Roland Morris Disability Questionnaire, foi de 48% para a ioga, 37% para fisioterapia, e 23% para educação”, disse o Dr. Saper. “O que significa que para cada dois pacientes fazendo ioga, cerca de 50% terá resposta clínica”.

Observando as razões de chances (odds ratio) para função, comparando as diferentes intervenções, “a ioga é na verdade superior” à fisioterapia e “um pouco” superior à educação, disse o Dr. Saper.

No início do estudo, cerca de 70% dos participantes estavam usando medicações. Com 12 semanas, esse uso foi reduzido em cerca de 20% nos grupos da ioga e da fisioterapia, e não mudou no grupo da educação.

Um número semelhante de sujeitos na ioga e na fisioterapia relataram estar “muito melhor” e “muito satisfeito”, disse o Dr. Saper. A ioga provou ser segura, com apenas exacerbações transitórias da dor lombar.

Além da baixa aderência, outra possível limitação do estudo é que os achados não podem ser generalizados. “Esse foi um programa padronizado e bem estruturado de ioga”, disse o Dr. Saper. “Não sabemos como os pacientes vão evoluir se forem em um estúdio de ioga perto de casa”.

Estudos maiores são necessários para desenvolver estratégias melhores de aumentar a aderência, disse ele.

Custo-efetividade

Os pesquisadores vão agora analisar os custos envolvidos na ioga, disse o Dr. Saper ao Medscape após sua apresentação.

“Estamos coletando dados para avaliar a custo-efetividade da ioga para dor lombar clínica, da perspectiva do pagador, da sociedade e do paciente. Veremos o que essas análises mostram; potencialmente vão justificar, em combinação com dados de eficácia, a cobertura de programas de ioga estruturados pelo hospital ou sistema de saúde”.

Convidado a comentar o estudo, o Dr. Robert Bonakdar, Scripps Center for Integrative Medicine, La Jolla, Califórnia, disse que o trabalho faz “uma pergunta importante”: como algo “novo e iminente como a ioga” se compara à terapia padrão.

“Cada médico de família, cada médico na linha de frente com pacientes com dor lombar está em busca de tratamento não farmacológico, e uma das opções iniciais é a fisioterapia. Mas, infelizmente, isso não funciona para todos os pacientes”.

Em alguns casos, disse o Dr. Bonakdar, a fisioterapia pode não ser acessível ou coberta pelo plano de saúde, sendo nesse caso proibitivamente cara. De forma alternativa, “existem aulas de ioga que custam 10 ou 15 dólares por semana”, disse o Dr. Bonakdar, e a ioga “pode ser transicionada para uma prática domiciliar”.

O novo estudo “traz acréscimos ao nosso conhecimento sugerindo que a) a ioga é boa como tratamento padrão para terapia não farmacológica; e b) pode ser feita por uma população diversa, incluindo a população de baixa renda e que não domina do inglês de Boston. Assim, estão removidas algumas barreiras para recomendá-la”.

A beleza da ioga, disse o Dr. Bonakdar, é que “ela é muito completa”, e inclui não apenas a consciência corporal, mas o cuidado com a mente e a respiração. “E a pessoa se sente bem ao realizar, não percebendo que está realizando uma intervenção médica”.

Também existem evidências de que a ioga tem impacto positivo no cérebro. De acordo com M. Catherine Bushnell, do National Center for Complementary and Integrative Health, National Institutes of Health, praticantes de ioga em longo prazo têm mais substância cinzenta do que controles pareados fisicamente ativos.

“A substância cinzenta diminui com a idade, mas praticantes de ioga evoluem com estabilidade; não se observa essa redução de substância cinzenta relacionada à idade como em outras pessoas saudáveis”, disse Catherine aos delegados durante uma apresentação plenária em separado.

E a relação entre quanto tempo uma pessoa pratica ioga e as mudanças cerebrais positivas parece ser “algo robusta”, disse ela. “Quanto maior o número de anos que uma pessoa praticou ioga, mais substância cinzenta em múltiplos locais do cérebro”.

A ioga influencia áreas do cérebro que são importantes para modulação da dor, disse Catherine.

É uma “atividade complexa” que envolve não apenas exercício mas também controle da respiração e meditação. E embora as análises tenham mostrado que o exercício é o melhor contribuinte para a substância cinzenta, todos os outros elementos da ioga também têm um papel, disse ela.

Outro estudo citado por Catherine mediu a quantidade de tempo que os participantes podiam manter a própria mão na água fria. Ele mostrou que os praticantes de ioga têm maior tolerância à dor do que outras pessoas.

Em uma área do cérebro – o córtex da ínsula – houve relação entre tolerância a dor e quantidade de substância cinzenta, disse ela.

O estudo recebeu apoio de um fundo do National Center for Complementary and Integrative Health. Dr. Saper and Catherine Bushnell declararam não possuir conflitos de interesses relevantes ao tema. As opiniões de Catherine são próprias e não refletem uma posição ou política do National Institutes of Health, do Public Health Service, ou do US Department of Health and Human Services.

Encontro Anual de 2016 da American Academy of Pain Management (AAPM). Apresentado em 23 e 24 de setembro de 2016.

Fonte: Medscape

Autora: Pauline Anderson

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF
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Obesidade e depressão são dois grandes problemas de saúde pública desafiadores no mundo todo. Todo médico, independentemente da especialidade, depara-se no dia a dia com esses diagnósticos em pacientes de todas as idades. Entretanto, o maior problema de ambas as doenças é o estigma que o paciente sofre. A obesidade e a depressão podem ser isoladas. Cada condição pode ser estigmatizada e ter sérios efeitos para a saúde, além do seu impacto imediato. Tanto a depressão quanto a obesidade têm ligações genéticas fortes, de modo que filhos de pessoas com um ou ambos os problemas estão mais predispostos a tê-los também.

Curiosamente, quando ocorre um destes problemas de saúde, o outro geralmente também se desenvolve. Poderiam os efeitos de um sério excesso de peso levar diretamente à depressão? Ou a depressão, por si só, causa o excesso de peso?

Causa ou efeito? Depressão na obesidade

No estudo RADIANT, Hung et al. encontraram uma associação entre obesidade e depressão. No entanto, ao realizarem duas análises de variáveis ​​instrumentais, os autores identificaram que o excesso de peso provavelmente não é uma causa importante de depressão maior e concluíram que o IMC elevado provavelmente não causa depressão. A associação pode ​​ser explicada por causalidade reversa e/ou confusão residual ou, algum outro fator, ainda desconhecido, que possa esclarecer a associação entre essas condições. Portanto, o estudo RADIANT torna difícil apoiar uma conclusão abrangente de que a obesidade causa depressão.

Claramente, esse estudo não é a última palavra. As duas condições têm sido associadas e há muita especulação sobre uma relação causa e efeito. Para um indivíduo, é fácil entender como a obesidade pode ser um gatilho para a depressão e como a depressão pode causar comportamentos alimentares que levam à obesidade. Diversas pesquisas procuram soluções e/ou ligações entre as doenças, inclusive se há ligações físicas e psicológicas entre elas.

Pesquisadores continuam a explorar os complicados vínculos físicos e psicológicos entre eles. Não é surpreendente que os dois sejam associados: 10% da população dos EUA exibe pelo menos alguns sintomas de depressão e 2/3 têm excesso de peso ou obesidade. Todavia, os dois estão funcionalmente relacionados?

O efeito do eixo HPA impacta na depressão e na obesidade

Os hormônios do eixo hipotálamo-pineal-adrenal (HPA) é um conjunto complexo de influências de direção e interações de feedback envolvendo o hipotálamo, a glândula pituitária e as glândulas suprarrenais – partes do sistema nervoso que secretam uma variedade de hormônios. As três partes deste eixo HPA funcionam juntas para manter os produtos químicos do corpo equilibrados quando uma pessoa está sobre estresse.

O eixo HPA é responsável pela liberação de cortisol, que é disparado para neutralizar os efeitos do estresse. O cortisol tem uma série de efeitos, com destaque para a acumulação de gordura em torno do abdome. O estresse sustentado também pode levar à depressão.

Para fins de tratamento e prevenção, é importante adquirir mais informações sobre a interação longitudinal entre obesidade e depressão. Uma revisão sistemática confirmou uma ligação recíproca entre depressão e obesidade. A obesidade aumentou o risco de depressão, mais pronunciada em norte-americanos do que em europeus, e a depressão clinicamente diagnosticada. Além disso, a depressão mostrou-se preditiva do desenvolvimento da obesidade.

No estudo representativo de crianças e adolescentes norte-americanos na faixa etária entre 2 e 19 anos, a prevalência de obesidade em 2011 a 2014 foi de 17% e a obesidade extrema alcançou 5,8%.  Mais de 1/3 dos adultos e 17% dos jovens nos EUA são obesos. A prevalência da obesidade permanece elevada e, portanto, é importante continuar a vigilância.

Snook et al. ressaltaram que o peso corporal socialmente aceitável está aumentando, sendo menos motivada a perda de peso insalubre. O excesso de peso, a obesidade ou a obesidade grave aumentam significativamente o risco de desenvolver muitas outras doenças, como diabetes tipo II, hipertensão, doença cardíaca, acidente vascular encefálico (AVE), osteoartrite, entre outras.

Para apresentar uma visão geral da associação entre sintomas depressivos na infância e adolescência e posterior sobrepeso na vida adulta, foi realizada uma revisão de 1º de janeiro de 1997 a 30 de maio de 2007. Os resultados revelaram associação entre sintomas depressivos e sobrepeso em meninas de 8 a 15 anos. Os sintomas depressivos na infância ou na adolescência estão associados a risco aumentado de 1,90 a 3,50 vezes de sobrepeso. As conclusões com base nesses resultados suportam uma associação positiva entre sintomas depressivos com idades entre 6 e 19 anos e sobrepeso na vida adulta, a qual é avaliada após um período de 1 a 15 anos.

Para entender completamente as consequências físicas e de saúde mental da obesidade adolescente, a dimensão social e cultural do peso deve ser examinada. Nos EUA, mais de 9 milhões de crianças e adolescentes de 6 a 19 anos são afetados pelo excesso de peso, estando 70% delas mais propensas a permanecerem afetadas na idade adulta. Os fatores ambientais, como a falta de atividade física e os avanços tecnológicos, levaram a um estilo de vida mais sedentário.

As pessoas afetadas pela obesidade são muitas vezes conscientes de sua aparência ou suas habilidades físicas. Elas retiram-se ou são excluídas das atividades sociais e se sentem mais isoladas de amigos, colegas de trabalho e entes queridos. Enquanto isso, seus sentimentos de autoestima continuam diminuindo e, ao mesmo tempo, a obesidade afeta outros sistemas de órgãos, causando falta de ar, dores, problemas de sono, dores no peito e problemas digestivos – tudo isso pode desencadear sentimentos de tristeza e desespero, característicos da depressão.

Do mesmo modo, a depressão é debilitante, e o indivíduo que sofre de depressão pode estar menos motivado a se exercitar, menos capaz de seguir uma dieta de perto ou de preparar alimentos saudáveis, agarrando-se em algo rápido e tornando-se menos convencido sobre a necessidade de cuidar de sua própria saúde.

Houve um aumento rápido no tempo gasto no uso da internet como plataforma para entretenimento, socialização e fonte de informações. Hoare et al. avaliaram a relação entre a duração de tempo na internet para lazer, os sintomas depressivos e a angústia psicológica em adolescentes australianos. Os comportamentos dos adolescentes para melhorar os resultados de sua saúde física (como em caso de excesso de peso ou obesidade) são imperativos para que a sua relação recíproca com a saúde mental seja conhecida e possa ser incluída em desenvolvimentos de saúde pública.

No entanto, o uso da internet pode ajudar na saúde mental e, portanto, ser um fator de risco modificável para alcançar e melhorar os resultados para essa faixa etária, embora seja recomendada precaução na interpretação das descobertas, em virtude de algumas inconsistências emergentes dessa evidência.

Já a depressão maior é um transtorno de alta prevalência, idade de início precoce e alta persistência. Muitos países confirmam a importância mundial da depressão. Embora a evidência não seja definitiva, a depressão desempenha um papel causal em associação a muitos desfechos adversos, como a obesidade.

Recentemente Abbasi publicou estudo, destacando que 1/4 dos candidatos à cirurgia bariátrica apresenta algum distúrbio mental. Os dados do trabalho mostram que a incidência da depressão e da compulsão alimentar em obesos é 2 vezes maior do que na população em geral. Isso comprova a importância do acompanhamento psicológico e psiquiátrico de candidatos à cirurgia bariátrica, bem como de indivíduos que já se submeteram ao tratamento cirúrgico da obesidade. Esse assunto será abordado em breve aqui.

Fonte: Gen Medicina

Autora: Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro

Doutora em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médica Psiquiatra pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Coordenadora da Comissão de Atenção à Saúde Mental do Médico da ABP.

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF
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A literatura apresenta resultados consistentes a respeito das propriedades anti-inflamatórias dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (n-3 LC-PUFAs), presentes em grandes quantidades nos peixes, por exemplo. Entretanto, ainda há questionamentos acerca das propriedades dos n-3 LC-PUFAs na redução do risco de doença alérgica, haja vista os resultados controversos de estudos que avaliaram o efeito da ingestão de peixes sobre doenças alérgicas.

Neste estudo, publicado no Pediatric Allergy and Immunology, foram realizadas buscas nas bases de dados PubMed, EMBASE e Cochrane Central Register of Controlled Trials. Foram pesquisados ensaios clínicos randomizados e estudos prospectivos de coorte sobre o efeito da ingestão de peixe durante a gravidez ou na infância sobre os resultados alérgicos em crianças. Os resultados de interesse foram atopia, eczema, rinite alérgica, sibilância, asma e alergia alimentar. Foram incluídos na análise 1 estudo randomizado controlado e 17 publicações de 13 estudos de coorte prospectivos que abordavam a ingestão de peixe durante a gravidez, bem como 80 publicações de 5 estudos prospectivos de coorte que abordaram a ingestão de peixe na infância.

Os resultados da análise conjunta sugeriram que a ingestão de peixe durante a gravidez não estava associada ao menor risco de qualquer desfecho alérgico, tanto nos estudos randomizados controlados quanto em estudos observacionais. O consumo de peixe durante o primeiro ano de vida reduziu o risco de eczema (RR 0,61; IC 95%: 0,47 – 0,80; p = 0,0003; I2 = 68%) e rinite alérgica (RR 0,54; IC 95%: 0,36 – 0,81; p = 0,003; I2 = 74%).

Com base na evidência atual de estudos randomizados controlados de alta qualidade, os pesquisadores concluíram que a ingestão de peixe na infância pode reduzir o risco de eczema e rinite alérgica em crianças, enquanto que a ingestão de peixe pela mãe durante a gravidez não afeta nenhum resultado atópico. Segundo os autores, o consumo de peixe per se durante a infância, e não especialmente de n-3 LC-PUFAs, pode ter um efeito protetor de alergia.

Fonte: Medical Services

Autores: Zhang GQ, Liu B, Li J, Luo CQ, Zhang Q, Chen JL, Sinha A, Li ZY.

Exames de ultrassonografia – Morfológico e Transluscência Nucal

Foi realizada pesquisa aprofundada nas bases de dados (SciELO, PubMed, Medline e Scopus), buscando consensos, artigos de revisão, incluindo revisões sistemáticas e meta-análises, publicados em inglês, entre 2000 e 2016. As palavras-chaves utilizadas na busca foram glicocorticoides, esteroides, fraturas, osteoporose, saúde óssea, crianças e adolescentes.

A revisão foi dividida em quatro tópicos principais: 1) introdução, com breve enfoque nas fraturas em pediatria; 2) osteoporose em crianças e adolescentes, destacando-a como causa silenciosa de fraturas; 3) glicocorticoides e doença óssea secundária, com a descrição dos mecanismos deletérios desse grupo de esteroides na estrutura óssea; 4) efeitos moleculares do excesso de glicocorticoides no osso, com o detalhamento dos mecanismos nocivos a nível molecular do tecido ósseo.

Os glicocorticoides em excesso determinam doença óssea precoce, favorecendo a ocorrência de fraturas. Dessa forma, uma criança ou adolescente que requer corticoterapia, sobretudo crônica e sistêmica, mas também em ciclos repetidos com doses cumulativas altas, necessita de cuidados e orientações relacionados à saúde óssea logo ao início do tratamento. Por outro lado, aqueles com fratura, mesmo entrelaçada a um trauma, podem sinalizar fragilidade óssea subjacente e desconhecida, incluindo a secundária ao uso de glicocorticoides e à deficiência de vitamina D.

Fonte: Medcenter

Referências:

Sávio Cavalcanti Sarinhoa E, Pinho Pessoa Melo V, Doença óssea induzida pelos glicocorticoides: mecanismos e importância na prática pediátrica. Rev. paul. pediatr. vol.35 no.2 São Paulo Apr./June 2017  Epub May 29, 2017

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF de Tireoide e Mama

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Com fre­quência, o leigo usa o termo “compulsivo” de maneira equivocada para qualificar algum comportamento tido como exagerado ou excessivo. Infelizmente, não é raro vermos esse erro sendo cometido também por profissionais ou estudantes da ­área de psiquiatria ou saú­de mental. Para entendermos o que é um comportamento compulsivo de fato, é necessário explicar as etapas do processo volitivo e distingui-lo do comportamento impulsivo.

O processo volitivo é composto por quatro etapas: intenção ou propósito; deliberação; decisão; e execução. A título de exemplificação, vamos considerar o comportamento alimentar. Nesse sentido, a vivência subjetiva de estar com fome ou com vontade de comer representaria a primeira etapa. A segunda consistiria na comparação entre as diversas possibilidades de como saciar a fome – o ­quê, onde e quando comer –, e incluiria a opção de não comer. A terceira seria a escolha de uma dessas possibilidades; e a quarta, o ato de comer.

No comportamento impulsivo, o in­di­ví­duo vai direto da primeira para a última etapa, pulando a deliberação e a decisão. Ele age sem pensar, reagindo de maneira imediata a um impulso ou estímulo. É o que acontece quando nos deparamos com uma deliciosa barra de chocolate e a devoramos, com grande prazer, na mesma hora, sem titubear. A tentação é tão grande que não nos detemos um segundo sequer para analisar se devemos ou não comer o doce. Quando, enfim, pensamos no assunto, o chocolate já está no estômago. O sentimento de culpa só vem depois.

O comportamento compulsivo, ou compulsão, por sua vez, caracteriza-se por um prolongamento patológico da etapa de deliberação do processo volitivo. Representa uma ação a que o in­di­víduo se sente compelido a rea­li­zar, no entanto, ao contrário do que ocorre no comportamento impulsivo, a execução não se dá de imediato, mas somente após intensa resistência interna contra a rea­li­zação do ato. Este seria o caso de um in­di­víduo obeso com diversos problemas clínicos decorrentes do excesso de peso que ganha uma barra de chocolate. Como no exemplo anterior, a tentação é gigantesca, mas, neste caso, o nosso gordinho consegue, em um primeiro momento, resistir. Só que ele passa os minutos ou horas seguintes em total sofrimento, pensando incessantemente na barra de chocolate e, ao mesmo tempo, fica considerando os malefícios à sua saú­de que ela poderia causar. Que dilema! Comer ou não comer, eis a questão! Mais tarde, ele acaba cedendo, mas, por um algum tempo, foi capaz de adiar a satisfação.

Os dois exemplos apresentados estão relacionados à alimentação, mas, dependendo de como se expressam, comportamentos como comprar, roubar, relacionar-se amorosamente, ingerir bebida alcoó­lica e usar substâncias psicoativas também podem ser classificados como impulsivos ou, alternativamente, compulsivos. Temos que fazer uma análise com base nas quatro etapas do processo volitivo para definirmos em qual conceito determinado comportamento se enquadra.

Embora os comportamentos impulsivo e compulsivo sejam diferentes um do outro, a tradução brasileira para o português do DSM-5 parece ignorar essa distinção, especificamente no capítulo sobre transtornos alimentares. A bulimia nervosa caracteriza-se, entre outras coisas, por ataques de hiperingestão alimentar, nos quais o in­di­ví­duo engole rapidamente uma grande quantidade de alimentos, com total perda do controle sobre a ingestão. Ele não consegue parar de comer e, muitas vezes, quando toda a comida ao seu alcance acaba, chega a revirar a lixeira em busca de restos de alimentos. Trata-se, sem dúvida, de um comportamento tipicamente impulsivo (e tipicamente nojento também).

No entanto, na versão brasileira do DSM-5, esses ataques de hiperingestão alimentar são chamados, estranhamente, de episódios de compulsão alimentar. No original, em inglês, a expressão é binge eating. O termo binge é mais adequadamente traduzido, especialmente se considerarmos os conceitos psicopatológicos, como “farra” ou “comilança” (ou “bebedeira”, quando se refere ao consumo de bebidas alcoó­licas). De fato, alguns dicionários traduzem bingecomo “compulsão”, mas a recíproca não é verdadeira: o termo correto em inglês é compulsion.

E ainda há, na versão brasileira do DSM-5, a categoria nosológica “transtorno de compulsão alimentar” (binge eating disorder), que, em essência, é semelhante à bulimia nervosa, exceto pela ausência de comportamentos compensatórios, como vômito autoinduzido, mas com os mesmos ataques de hiperingestão alimentar. Assim, paradoxalmente, no transtorno de compulsão alimentar, o comportamento alimentar não é compulsivo… É impulsivo!

Fonte: Genmedicina

Autor: Elie Cheniaux

Professor Associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Docente do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB-UFRJ).

Espaço Medico Península – Biópsias dirigidas

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GEN – Sabe-se atualmente que a vitamina D é importante para a homeostase do sistema imune. A que outras conclusões o estudo chegou?

SRGFV – A literatura científica é controversa, pois apenas 20% da vitamina D existente no organismo humano é proveniente da dieta. A quantidade ideal recomendada só é alcançada por meio da exposição ao sol – algo cada vez mais raro no meio urbano – ou pela ingestão de suplementos.

Após dosar a concentração do nutriente no sangue dos participantes e avaliar o padrão alimentar, concluímos que de fato havia uma associação entre maior ingestão de alimentos ricos em vitamina D e níveis circulantes mais elevados. As principais fontes alimentares na amostra foram ovos, leite e seus derivados.

GEN – Como foi desenvolvida a pesquisa?

SRGFV – Essa pesquisa transversal é um desdobramento de um estudo maior, do tipo longitudinal, conhecido como Nutritionists Health Study (NutriHS), que acompanha, desde 2013, os hábitos de vida de uma amostra específica de estudantes de nutrição e nutricionistas. As conclusões estão baseadas na análise dos dados de 150 voluntários entre 20 e 30 anos (91% do sexo feminino) que estão cursando ou já concluíram a graduação em nutrição.

Sabemos que é oportuno avaliar nutricionistas, pois são indivíduos aptos a responder a questionários técnicos, especialmente relacionados à alimentação. Além disso, são pessoas muito ligadas a questões de alimentação e saúde, o que pode influenciar o hábito alimentar.

Nosso primeiro passo foi descobrir se existia uma relação entre ingerir uma quantidade maior de alimentos ricos em vitamina D e apresentar um maior nível do nutriente na circulação sanguínea.

GEN – Como essa população foi estratificada?

SRGFV – A população foi estratificada em três grupos: o primeiro com níveis insuficientes de vitamina D; o segundo com concentrações intermediárias, dentro do mínimo recomendado; e o terceiro com as concentrações mais altas, no qual estavam inseridos participantes que faziam uso de suplementos polivitamínicos.

Depois comparamos o perfil de saúde dos três grupos, levando em conta fatores como índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura, pressão arterial, glicemia e sensibilidade à insulina. Em nenhum desses aspectos notamos diferença significativa. Observamos apenas que os participantes com maior nível de vitamina D circulante apresentavam no sangue uma quantidade menor de lipopolissacarídeos (LPS), moléculas que estão presentes na superfície de bactérias gram-negativas do trato gastrointestinal.

Vale ressaltar que parte das bactérias gram-negativas é patogênica, enquanto a maioria das gram-positivas não – algumas são até mesmo consideradas benéficas para a saúde humana.

GEN – Isso possibilita levantar a hipótese de que os indivíduos mais suficientes de vitamina D possuem uma composição mais saudável da microbiota intestinal – o que teria, por sua vez, um impacto benéfico no risco cardiometabólico? Por quê?

SRGFV – A molécula de LPS é considerada imunogênica, ou seja, ela é capaz de induzir uma resposta inflamatória no organismo. Níveis sanguíneos mais altos dessa substância, portanto, favoreceriam o desenvolvimento de um estado de inflamação subclínica (crônica, de baixo grau e sistêmica), fator que tem sido associado, em diversos estudos, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, entre elas o diabetes.

A composição da microbiota intestinal tem sido associada ao desenvolvimento de doenças, não apenas infecciosas como também crônicas, que têm relação com inflamação de baixo grau e resistência à insulina. É possível que a vitamina D tenha alguma participação nesse processo, mas ainda é cedo para apontar uma relação de causa e consequência. Para isso, seria necessário fazer um estudo de intervenção, ou seja, comparar grupos que ingerem diferentes quantidades do nutriente por um longo período e observar o impacto na microbiota e no perfil de risco cardiometabólico.

GEN – O grupo liderado pela senhora também realizou um censo microbiano. O que foi encontrado nessa busca?

SRGFV – Fizemos um “censo” bacteriano com amostras de fezes dos participantes do estudo. Por meio de técnicas de sequenciamento do DNA e auxílio de métodos de bioinformática e estatísticos, identificamos, entre os trilhões de microrganismos presentes, os filos e os gêneros mais frequentes em cada grupo de voluntários.

Em apenas alguns dos gêneros identificados observamos relevância estatística. Por exemplo, nos participantes com mais vitamina D, foram menos abundantes os gêneros Haemophilus e Veillonella – ambos de bactérias gram-negativas. Por outro lado, esses mesmos voluntários tinham mais bactérias dos gêneros Coprococcus e Bifidobacterium – ambos de bactérias gram-positivas.

Após ajustar a análise, considerando fatores que podem enviesar os resultados, como sexo e idade dos participantes, além da estação do ano em que a análise foi realizada (o que pode influenciar o nível de vitamina D em função da exposição solar), o que restou de mais significativo foi a associação entre maior nível de vitamina D e maior abundância dos gêneros Coprococcus e Bifidobacterium, ambos considerados benéficos para a saúde humana. As chamadas bifidobactérias são classificadas como probióticas, ou seja, favorecem uma microbiota intestinal mais saudável. Estudos indicam que elas ajudam a controlar o crescimento de bactérias nocivas, minimizando sintomas diversos.

GEN – Quais foram as conclusões da pesquisa?

SRGFV – A análise dos resultados nos permite especular que a relação da vitamina D com a microbiota é um caminho de duas vias. Encontramos evidências tanto de que o nutriente pode interferir na composição da microbiota intestinal – uma vez que a vitamina D é uma espécie de guardiã do organismo, favorecendo a homeostase do sistema imune – como também do oposto, ou seja, de que um determinado perfil de microbiota poderia influenciar o nível de vitamina D circulante. Análises longitudinais e de intervenção são necessárias para testar essas hipóteses.

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Embora zika, dengue e chikungunya sejam arboviroses transmitidas pelo mesmo vetor – o mosquito Aedes aegypti–, a primeira se diferencia das outras duas não apenas por sua relação com casos de microcefalia, mas também por apresentar transmissão sexual.

“Como as mulheres em idade reprodutiva são infectadas tanto pelo mosquito quanto pelos parceiros, o resultado é que temos muito mais casos de zika em mulheres do que em homens”, afirmou Flavio Codeco Coelho, professor da Fundação Getúlio Vargas, ao Medscape.

O biólogo especializado em engenharia biomédica desenvolveu modelos matemáticos que confirmam que a transmissão sexual teve importante papel na epidemia de zika no Rio de Janeiro ocorrida entre 2015 e 2016[1]. Durante apresentação no STI & HIV World Congress, evento realizado entre 9 e 12 de julho na capital fluminense, Flavio expôs dados de seu estudo, que comparou a incidência ajustada por idade de zika e dengue entre homens e mulheres. O trabalho foi feito em conjunto com pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, Fundação Oswaldo Cruz e Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro

Entre 2015 e abril de 2016, foram registrados 29.301 casos suspeitos de zika pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, sendo 20.315 em mulheres e 8.986 em homens. No mesmo período, foram notificados 102.754 casos de dengue, dos quais 46.305 foram em homens e 56.449 em mulheres[1].

Os pesquisadores calcularam as incidências por grupo etário, removendo as gestantes. Análise de regressão apontou uma incidência de zika significativamente maior para mulheres sexualmente ativas: houve 90% mais casos registrados por 100.000 mulheres do que em homens na faixa de 15 a 65 anos de idade. No entanto, esse padrão não se manteve para outros grupos etários (menor que 15 e maior que 65 anos).

A diferença observada, de acordo com o pesquisador, poderia ser gerada apenas por uma tendência de as mulheres buscarem mais atendimento médico do que os homens. Mas, se somente este fator estivesse envolvido, o mesmo padrão deveria ser observado para dengue, o que não foi verificado. Os dados de notificação de dengue de 2013 e de 2015 revelam que mulheres foram apenas 30% mais propensas a reportar a doença do que homens, o que estaria sim relacionado ao fato de o gênero feminino revelar maior cuidado com a própria saúde.

“Mas o aumento de mais de 90% observado para zika provavelmente é causado pela transmissão sexual”, afirmou o cientista.

Sabe-se, segundo Coelho, que a transmissão sexual é mais provável de acontecer do homem para a mulher do que o contrário, pois o vírus aparece em grande quantidade no sêmen.

 “Isso significa que apesar de a mulher ser capaz de transmitir para o homem, há muito mais chance de o homem transmitir para a mulher”, explicou o biólogo, lembrando estudos recentes que detectaram cargas virais de Zika no sêmen de pacientes de dois a três meses após do início dos sintomas da infecção[2].

A importância da transmissão sexual foi verificada também em estudos colombianos. Em trabalho publicado no periódico Epidemics, a análise de casos de zika registrados em 2015 em Barranquilla (Colômbia) revelou que a transmissão sexual foi responsável por cerca de 47% das ocorrências[3].

A modelagem baseada em evidências usada na pesquisa de Coelho é uma ferramenta que vem contribuindo para revelar parâmetros que não são observáveis diretamente. Mas ainda há muitas questões a serem investigadas. Para o pesquisador, são necessários mais estudos para conhecer melhor a dinâmica da infecção.

“Ainda não é possível saber qual o impacto da transmissão sexual em longo prazo. Precisamos investigar outras áreas nos próximos anos para tentar entender melhor esse aspecto. Os dados atuais ainda não permitem quantificar de forma precisa a contribuição da transmissão sexual”.

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF de Tireoide e Mama

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Identificação: 64 anos de idade, branco, casado, empresário.

Queixa e duração: Dificuldade para urinar e aumento da frequência urinária há três anos.

História pregressa da moléstia atual:Paciente com queixas de sintomas do trato urinário inferior (LUTS, do inglês lower urinary tract symptoms) (jato fraco, polaciúria, urgência miccional e noctúria [duas vezes]). Refere estar incomodado com os sintomas, que pioraram nestes últimos anos.

Apresenta International ProstateSymptom Score (IPSS) de 15 e The Quality of Life Scale (QOLS) de 3. O diário miccional descartou poliúria noturna.

Antecedentes pessoais: Hipertenso, utiliza 50 mg por dia de metoprolol. Nega diabetes melito e disfunção erétil.

Antecedentes familiares: Nega antecedente familiar de neoplasia prostática.

Exame físico: Toque retal: próstata de consistência fibroelástica sem nódulos, com volume aproximado de 60 gramas.

Exames subsidiários: prostate-specific antigen (PSA) de 1,7 ng/mL, creatinina de 0,9 mg/dL. Urina tipo I normal. Ultrassonografia de vias urinárias e próstata: rins normais, bexiga apresentando leve espessamento de paredes e próstata com ecogenicidade habitual e  limites bem   definidos, com volume estimado de 80 cm3 e resíduo urinário pós-miccional de 100 mL (Figura 1). Urofluxometria livre: fluxo urinário máximo de 11,8 mL/s.

Tratamento: A conduta terapêutica foi prescrição de 0,5 mg de dutasterida + 0,4 mg de tansulosina por dia.

Evolução: Paciente retorna depois de seis meses referindo melhora de LUTS, satisfeito com os sintomas urinários, mas queixando-se de tonturas e diminuição importante do volume ejaculado.

Reavaliação dos sintomas: IPSS de 7 e QOLS de 2.

Figura 1.

WO-190916-1

Exames físicos: Toque retal: próstata de  50 gramas, consistência fibroelástica, sem nódulos.

Exames  subsidiários:  PSA  de  1,0  ng/mL, creatinina de 1,0 mg/dL. Urina tipo I normal. Ultrassonografia: volume prostático de 60,3 cm3 e resíduo urinário pós-miccional de 20 mL.

Seguimento

O paciente vem fazendo o uso de 0,5 mg de dutasterida por dia, permanecendo com LUTS leves sem efeitos adversos importantes.

Discussão

O objetivo do tratamento é a melhoria de LUTS e da qualidade de vida do paciente, “Devido ao quadro de hipotensão e diminuição do volume ejaculado foi suspensa a tansulosina, 0,4 mg. O paciente vem fazendo uso de dutasterida, 0,5 mg por dia” bem como prevenir complicações relacionadas com a evolução da hiperplasia prostática benigna (HPB).

Atualmente as farmacoterapias de primeira linha no tratamento de LUTS associados à HPB são os antagonistas alfa-adrenérgicos (alfa bloqueadores) e os inibidores da 5-alfa-redutase. Os alfa bloqueadores são os fármacos mais frequentemente prescritos e simplesmente atuam promovendo o relaxa- mento da musculatura lisa prostática e do colo vesical (componente dinâmico). Os inibidores da 5-alfa-redutase, por outro lado, reduzem o volume prostático, atuando no componente estático da obstrução prostática.

WO-190916-3

No entanto, deve-se considerar que para aqueles pacientes que apresentem efeitos colaterais decorrentes da utilização dos alfa bloqueadores ou pacientes que utilizaram a terapia combinada por mais de seis meses e estão com sintomas leves relacionados a LUTS, a monoterapia com inibidores de 5-alfa-redutase se apresenta como uma boa opção terapêutica.”

Os receptores alfa estão envolvidos na regulação do tônus da musculatura lisa da próstata e do colo vesical e são mediadores críticos na sintomatologia do trato urinário inferior e na fisiopatologia de LUTS devidos à HPB. Por essa razão, os alfabloqueadores são fármacos eficazes no tratamento de LUTS associados à HPB, mas seu mecanismo de ação não impede a evolução da doença, apenas o alívio dos sintomas.

Os efeitos colaterais mais comuns de bloqueadores são diminuição do volume ejaculado, astenia, tontura e hipotensão (ortostática). Os  inibidores  de  5-alfa-redutase  podem ser prescritos a homens com LUTS e próstata aumentada (> 40 mL) ou PSA elevado  (> 1,6 ng/mL). Os inibidores de 5-alfa-redutase podem prevenir a progressão da doença, reduzindo a necessidade de cirurgia e retenção urinária aguda.6,7

Para a melhora sintomática de LUTS associados à HPB são necessários entre quatro a seis meses de terapia com inibidores da 5-alfa-redutase.

Já a combinação de alfabloqueadores e inibidores da 5-alfa-redutase é um tratamento efetivo para pacientes com LUTS moderados a intensos, aumento do volume prostático (> 40 mL), PSA elevado (> 1,6 ng/mL) e fluxo urinário máximo reduzido. O uso da terapia combinada é valido não apenas para alívio dos sintomas, mas para reduzir a progressão da HPB.

No entanto, deve-se considerar que para aqueles pacientes que apresentem efeitos colaterais decorrentes da utilização dos alfa bloqueadores ou pacientes que utilizaram a terapia combinada por mais de seis meses e estão com sintomas leves relacionados a LUTS, a monoterapia com inibidores de 5-alfa-redutase se apresenta como uma boa opção terapêutica.

Conclusão

O tratamento deve ser individualizado, considerando-se a gravidade e o tipo de LUTS, a existência de comorbidades e as preferências de cada paciente, além do grau de incômodo, do impacto na qualidade de vida e do risco de progressão da doença.

Fonte: Medcenter

Autor: Dr. Nardozza Junior

Professor Afiliado da Disciplina de Urologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.


Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF de Tireoide e Mama

 

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Em novembro se discute amplamente a importância dos exames que detectam o câncer de próstata, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) alerta para a prevenção e diagnóstico precoce de outros tipos de tumores que acometem a população masculina, como os tumores de pele, pulmão, colorretal, estômago, região da boca, cabeça e pescoço, entre outros.

“O câncer de próstata é o segundo mais prevalente entre os homens e as campanhas de conscientização são fundamentais para discutir o problema e tirar o estigma que envolve a detecção da doença. Porém é importante ressaltar que há outros tumores muito comuns entre a população masculina que podem ser evitados ou tratados com sucesso quando diagnosticados precocemente”, comenta Dr. Claudio Ferrari, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

O oncologista destaca ainda que os homens costumam ser mais negligentes em relação à prevenção e realização de exames. “A população em geral, e os homens em particular, devem adotar hábitos de vida que diminuam o risco de desenvolver um câncer, estar em dia com suas vacinas e procurar seu médico diante de sinais ou sintomas que sugiram a possibilidade de ter a doença”, completa Dr. Ferrari.

Para orientar a população, a SBOC preparou uma relação com os tipos de tumores mais comuns entre os homens e como fazer a prevenção ou o diagnóstico.

Câncer de Pele

Para 2016, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 80.850 casos novos de câncer de pele não melanoma nos homens. Este é o tipo de câncer mais frequente entre os brasileiros e o principal fator de risco para a doença é a exposição excessiva à radiação solar. Dessa maneira, a prevenção individual com o uso de filtros solares é eficaz e de custo relativamente baixo.

Pessoas de pele clara possuem um risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de pele, sendo que a incidência aumenta com a idade e é mais frequente na população masculina do que na feminina. O bronzeamento artificial também é considerado um fator de risco, especialmente em idades jovens.

“O cuidado com o Sol deve começar já na infância, com o uso de protetor solar em toda exposição mais prolongada. Na vida adulta, a proteção deve ser mantida, reduzindo o risco do aparecimento de possíveis tumores na pele. Ao primeiro sinal de surgimento de novas manchas na pele ou alterações em manchas já existentes, como modificações de cor e tamanho, é preciso procurar um médico para que seja feita a correta avaliação e, se for necessário, que o tratamento comece o quanto antes”, recomenda Dr. Rodrigo Guedes, oncologista integrante da SBOC.

Câncer de Pulmão

O tabagismo é responsável por, aproximadamente, seis milhões de mortes anuais no mundo, e aproximadamente 147 mil mortes no Brasil, incluindo as decorrentes de câncer. Segundo o Inca, estima-se que o Brasil apresente 17.330 casos de câncer de traqueia, brônquios e pulmões entre os homens e 10.890 entre mulheres, em 2016.

“O câncer de pulmão é um dos mais agressivos e, ironicamente, um dos mais fáceis de ser evitado, uma vez que o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença é o tabagismo”, comenta a oncologista diretora da SBOC, Dra. Clarissa Matias. Em geral, os fumantes têm cerca de 20 a 30 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão, quando comparados a pessoas que nunca fumaram.

Os sintomas da doença incluem tosse, que pode vir acompanhada de sangue, dores no peito, espirros, perda de peso e não costumam aparecer até que o câncer esteja em estado avançado, o que dificulta o tratamento.

Para ficar longe do câncer de Pulmão, a principal recomendação é não fumar. Quem nunca fumou, mantenha-se longe do cigarro e quem fuma deve buscar parar.

Câncer Colorretal

Para 2016, o Inca estima 16.660 casos novos de câncer de cólon e reto em homens no Brasil. Este tipo de tumor está ligado a hábitos de vida, como alto consumo de carnes vermelhas e carnes processadas, pouca ingestão de frutas, legumes e verduras, obesidade e, inatividade física.

“Sabemos que o consumo de alimentos ricos em fibras e a prática regular de atividade física são considerados medidas preventivas contra a doença, portanto este é mais um tipo de tumor que pode ser evitado com a adoção de hábitos de vida saudáveis”, explica Dr. Gustavo Fernandes, oncologista Presidente da SBOC.

O diagnóstico do câncer colorretal deve ser suspeitado em casos de alteração do hábito intestinal e eliminação de sangue nas fezes. O exame colonoscópio permite a visualização da lesão e, muitas vezes, o tratamento do câncer em estágios iniciais e de lesões precursoras (que podem vir a se tornar um câncer).

Câncer de próstata

Considerado o segundo tumor mais comum na população masculina em todo o mundo, o câncer de próstata deve atingir 61.200 novo casos no Brasil em 2016 segundo estimativas do Inca. O principal fator de risco para a doença é a idade, uma vez que a maioria casos é diagnosticada em homens acima dos 65 anos e menos de 1% é diagnosticado em homens abaixo dos 50 anos.

Outros fatores de risco são o histórico familiar e a etnia. Homens que tiveram pai ou irmão diagnosticados previamente com a doença apresentam um aumento de duas a três vezes no risco de desenvolver essa neoplasia. Esse risco aumenta cerca de 11 vezes se o diagnóstico do pai ou do irmão tiver ocorrido antes dos 40 anos. Além disso, o câncer de próstata é 1,6 vez mais comum em homens negros quando comparados aos homens brancos.

“Quando o câncer de próstata é diagnosticado em fase inicial, 90% dos casos têm chance de cura. Mesmo estágios mais avançados podem ser tratados com bons resultados. É preciso saber que ainda existe a chance de diagnosticar na fase inicial da doença. A realização do exame de toque realizado pelo urologista associado ao exame de sangue denominado Psa são as melhores maneiras de se detectar a doença” alerta o Dr. Volney Lima, Diretor da SBOC.

Câncer do Estômago

Com a melhor conservação dos alimentos – uso de geladeira e redução do consumo de conservas e alimentos salgados –, a incidência do câncer de estômago caiu muito ao longo do século XX. Mesmo assim, esse tumor continua sendo um dos mais comuns na população masculina brasileira.

Os sintomas do câncer de estômago inicial são parecidos com os de uma gastrite ou de uma úlcera e o diagnóstico é realizado por uma endoscopia.

Como o câncer está relacionado à infecção pela bactéria Helicobacter Pylori, que também responde por boa parte das gastrites, sua presença deve ser sempre pesquisada em pacientes que apresentam essa doença. A eliminação do agente é possível com o uso de antibióticos.

Câncer da região da Cabeça e do Pescoço

Os tumores desta região estão fortemente relacionados ao hábito de fumar e mascar tabaco. Mais recentemente, a infecção pelo HPV tem se apresentado como um fator de risco importante no desenvolvimento dos tumores da língua.

Rouquidão prolongada e lesões na cavidade oral são possíveis sinais do desenvolvimento de tumor na região.

A prevenção é possível. Em primeiro lugar não fumando ou parando de fumar. E isso vale para cigarro, charuto, cachimbo, etc. Outra medida possível é a vacinação contra HPV. Os dentistas podem ajudar a identificar as lesões suspeitas na boca.

Estimativa de novos casos de câncer em indivíduos do sexo masculino, durante o ano de 2016 (excluindo câncer de pele não-melanoma)

Fonte: Medcenter


Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF de Tireoide e Mama

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Sinequias intrauterinas são pontes de tecido cicatricial que conectam paredes uterinas opostas. Tais pontes podem envolver apenas endométrio, camada basal ou miométrio, com repercussões distintas e complexidade terapêutica diferente. Podem aparecer em lugares diferentes e ocorrer em qualquer área do canal cervical ou cavidade uterina.

Um paciente com sinequias pode ser assintomático. As queixas, quando presentes, estão relacionadas à menstruação ou infertilidade, e estão correlacionadas com a localização, a extensão e o tipo de sinequia.

No caso de sinequia de orifício interno ou adesão extensa envolvendo toda a cavidade uterina (síndrome de Asherman), o paciente pode apresentar amenorreia. Menstruação prolongada, dismenorreia, aborto, parto prematuro e placenta acreta também podem ocorrer em pacientes com aderências uterinas.

O primeiro relato de sinequias ocorreu em 1894, por Fristch, e tornou-se mais destacado em 1948, quando Asherman deu o nome de “amenorreia traumática” para a amenorreia causada por curetagem uterina após aborto incompleto ou imediatamente após o parto. Abortos recorrentes podem resultar em mais aderências, acometendo até 43% em pacientes com três ou mais abortos espontâneos.

Sinequias intrauterinas são uma das principais causas de infertilidade secundária. Alguns artigos mostraram que, em uma população de mulheres inférteis, o diagnóstico histeroscópico de sinequia variou de 1,7 a 7%. Outros estudos encontraram taxas mais significativas de até 20%.

Etiologia

A principal causa da formação de sinequia uterina é a curetagem uterina realizada imediatamente após parto ou aborto. A camada basal do endométrio, ou até mesmo o miométrio uterino, é exposta e, quando em contato com a parede oposta, formará uma reação de cicatrização anexando uma parede à outra. Em menor escala, é possível encontrar aderências causadas por procedimentos histeroscópicos, tais como polipectomia, miomectomia e ablação endometrial.

Dentre outros fatores que podem estar relacionados com a formação de adesões estão a curetagem não obstétrica e a endometrite tuberculosa.

Alguns autores também levaram em consideração três fatores que podem estar envolvidos no agravamento desta condição, contribuindo para a formação de aderências: impregnação hormonal (útero grávido com grande influência hormonal); infecção (reação inflamatória local favorecendo o processo de cicatrização controversa); retenção de material trofoblástico (há também reação inflamatória local com aumento da ação dos fibroblastos).

Diagnóstico e correlação clínica

Os sintomas da sinequia intrauterina variam de acordo com sua localização, extensão e tipo. As alterações menstruais mais comuns são amenorreia, hipomenorreia e/ou dismenorreia. Diminuição ou interrupção do fluxo menstrual pode ocorrer devido à obstrução endometrial ou destruição. Sinequias no canal cervical e orifício interno, aderências extensas que afetam toda a cavidade uterina e aquelas em que o endométrio foi destruído (afetando a camada basal ou músculo) podem resultar em amenorreia (Figuras 1 e 2).

Figura 1 – Sinequia intrauterina

Figura 2 – Sinequia intrauterina

Dismenorreia é comum quando as sinequias bloqueiam o fluxo menstrual, levando a uma reação inflamatória com aumento da contratilidade miometrial na tentativa de expulsar o sangue acumulado. Isso mostra que o endométrio acima da obstrução está funcionando e, quando derrama, causa hematometria e dor de cólicas. Nesses casos, após alguns meses, este endométrio interrompe o derramamento, e o hematométrio e a dismenorreia desaparecem. Alguns autores explicaram esse fato pela compressão desse endométrio pelo hematométrio, o que leva a um mecanismo neural inibitório.

Diminuição do fluxo menstrual ocorre quando sinequias ocupam apenas parte da cavidade uterina, permitindo menor área de derramamento do endométrio, isto é, o endométrio não comprometido.

As aderências localizadas em regiões cornuais com óstios tubáricos obliterados estão relacionadas à infertilidade (Figura 3). Em alguns casos, apenas uma oclusão parcial da cavidade uterina é capaz de dificultar a migração de espermatozoides ou até mesmo a nidação de blastocistos no endométrio saudável. Aborto recorrente e partos prematuros também podem estar relacionados à deformação da cavidade uterina por adesões.

Figura 3 – Sinequia intrauterina

Os tumores endometriais, que muitas vezes causam sangramento uterino após a menopausa, podem não apresentar este sintoma quando a via é obstruída pela adesão. Portanto, os pacientes pós-menopausa, com doenças da cavidade uterina pré-maligna ou maligna, podem ser assintomáticos devido à presença de sinequias. Por essa razão, devemos estar atentos às alterações endometriais em pacientes pós-menopáusicas com sinequia que ocluem a passagem do histeroscópio. Nesses casos, a lise das aderências é necessária para o estudo completo da cavidade uterina, de modo que nenhuma doença maligna deixa de ser diagnosticada.

Investigações

Pacientes com alterações menstruais e/ou infertilidade, com história de curetagem uterina ou cirurgias histeroscópicas devem ser submetidas à investigação da cavidade uterina. A ultrassonografia transvaginal, embora possa sugerir aderências, não é capaz de localizar e determinar sua extensão precisa, identificando apenas a presença de hematométrio.

A histerossonografia pode demonstrar, em maior detalhe, os achados de sinequia. Uma das principais dificuldades é a presença de aderências de orifícios internos que impedem a progressão do soro. Nesses casos, podemos ter um diagnóstico equivocado de bloqueio completo da cavidade uterina.

A ressonância magnética (RM) tem boa precisão e pode sugerir adesões em seu nível de extensão, se forem muito extensas (Figura 4). No entanto, o teste de imagem pode não mostrar sua localização, e seu alto custo não endossa a seleção.

Figura 4 – Exame de ressonância magnética desinequia intrauterina (Profa. Alice Brandão. RM, Felipe Matoso).

Um método frequentemente utilizado é a histerossalpingografia, que apresenta excelente precisão e é capaz de identificar defeitos de preenchimento repetidos na sequência de imagem (Figura 5). Este é um dos métodos mais recomendados, pois mostra aderências, extensão e localização, e avalia a permeabilidade dos tubos, que é fundamental na triagem da infertilidade.

Figura 5 – Histerossalpingografia – imagens de sinequia (Profa. Rosa Brim – Instituto Cardiopulmonar, Salvador-BA).

Sua limitação é a mesma da histerossonografia: adesões ocluindo o orifício interno, levando a um diagnóstico errado da cavidade completamente aderida ou síndrome de Asherman. Em um grande número de casos, a cavidade uterina é normal, com aderências apenas no orifício interno.

A histeroscopia oferece vantagens sobre os outros métodos para fazer o diagnóstico de sinequias com sua localização, extensão e tipo, e para ser um tratamento ao mesmo tempo. Até mesmo nos casos de aderências internas de orifícios (as quais são seccionadas quando identificadas) é possível ter acesso à cavidade uterina e, assim, saber se é normal ou se há outras sinequias.

As aderências internas do orifício são mais frequentes em virtude da maior proximidade das paredes e por serem invariavelmente manipuladas para dar acesso à cavidade uterina, dentre outros fatores. O instrumento cirúrgico deve passar pelo orifício interno para chegar à cavidade uterina, como ocorre quando sai do interior do útero.

Fonte: Genmedicina

Autor: Ricardo Bassil Lasmar

Professor Adjunto de Ginecologia na Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Graduado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Professor do Curso de Mestrado Profissional em Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense. Professor da Disciplina de Técnica Operatória da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.

ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL
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O Brasil nos últimos anos vem expondo um grande problema que sempre existiu no âmago de sua sociedade: a corrupção. O conceito de corrupção está embasado no uso do poder, seja público ou privado, para se ter algum tipo de benefício ou ganho para si. Corrupção é um problema complexo e multifatorial, que inclui questões culturais, morais e religiosas dos indivíduos que participam do processo, seja de forma passiva ou ativa.

Nas ultimas décadas a ciência tenta entender quais questões psicopatológicas são mais prevalentes nestes casos. A corrupção está incluída entre os intitulados “crimes do colarinho branco” designação estabelecida pelo criminalista norte americano Edwin Sutherland, e na maioria das vezes é cometida por uma pessoa que exerce um cargo de alta respeitabilidade e status social elevado no curso de sua ocupação profissional[1,2]. Diferente do que muitos pensam, os crimes do colarinho branco não são algo exclusivo do Brasil, e os últimos escândalos não nos colocam como o país mais corrupto do mundo. Basta revisitarmos alguns dos últimos escândalos financeiros que abalaram a economia global, como o da Enron Corporation, que era uma das maiores companhias de energia norte americana, que levou seus acionistas e investidores a um prejuízo de mais de 70 bilhões de dólares, sem falar das fraudes do banco Lehman Brothers que afundou o mundo todo na pior crise financeira ocorrida depois da quebra da bolsa de valores de 1929.

Além disto, é importante ressaltar que a corrupção ou os crimes do colarinho branco não estão restritos apenas aos políticos ou aos CEOs de multinacionais, de empreiteiras ou do setor agropecuário. Muitas vezes banalizamos atos de corrupção no dia a dia, como suborno de agentes de trânsito ou outros tipos de fiscalizações.  No meio médico isso não é diferente. A corrupção acontece de diversas maneiras, como no pagamento de propina a profissionais por empresas de órteses e próteses, óticas que pagam oftalmologistas para indicá-los, sem falar na relação com a indústria farmacêutica, que oferece vantagens aos médicos em troca de prescrições. Acompanhamos diversos casos noticiados pela imprensa em relação a médicos que cobraram honorários por procedimentos feitos dentro do sistema único de saúde (SUS). Um fato de extrema importância é de que muitos médicos não prescrevem medicações usando como base pesquisas científicas e sim quais são os mais populares entre os colegas, ou os mais divulgados pelos representantes farmacêuticos[3]. Um exemplo disto é a diminuição da prescrição de carbonato de lítio para pacientes com transtorno afetivo bipolar nos EUA, além das novas gerações de psiquiatras que infelizmente não sabem como prescrevê-lo, mesmo com todas as evidências de que esta medicação é a mais eficiente em relação a prevenção de novas crises da doença, e a única droga que comprovadamente previne o suicídio[4,5].

Do ponto de vista sociológico a corrupção não é delimitada por decisões específicas, mas por um processo que envolve uma combinação de fatores como atitudes, planejamento deliberativo, antecedentes históricos, mobilidade social e afiliação a grupos[6]. A qualidade da burocracia, questões salariais, sistema penal, e transparências das leis também estão relacionadas como fatores de causa da corrupção[7]. Alguns sociólogos destacam também a desigualdade social e a grande distância entre as classes como um fator relevante[8]. É importante entender a complexidade social que envolve a corrupção e os crimes relacionados.

Do ponto de vista psiquiátrico, será possível identificar características comuns nos indivíduos que praticam este tipo de crime? Para tentar entender esta questão dois conceitos psicopatológicos devem ser entendidos: o temperamento afetivo e a relação dele com o insight (julgamento). Temperamento afetivo é um conceito antigo descrito desde a Grécia Antiga e posteriormente sistematizado por dois importantes psiquiatras alemães, Emil Kraepelin e Ernst Kretschmer[9,10]. Primeiramente, Kraepelin apresenta conceitos como temperamentos maníacos e depressivos que levaram Kretschmer a desenvolver conceitos como hipertimia e distimia respectivamente. A questão mais importante do conceito de temperamento é a noção de que sintomas maníacos e depressivos podem ser crônicos e leves, presentes e ativos o tempo todo, fazendo parte da personalidade do indivíduo e não apenas como episódios com sintomas severos. Posto isto, temperamentos podem ser definidos como versões leves de estados de humor, incluindo alterações no nível de energia, alteração no padrão de sono, e comportamentos (como sexual, social ou relacionado ao trabalho). Existem três temperamentos básicos[11]:

  1. Hipertimia, que envolve sintomas leves de mania como: aumento da energia, necessidade diminuída de sono, libido aumentada, sociabilidade, extroversão, e bom senso de humor. Esses indivíduos muitas vezes são conhecidos como workaholics, e são mais dispostos a correr mais riscos.
  2. Distimia, que envolve sintomas depressivos leves como: baixa energia, maior necessidade de sono, diminuição de libido, socialmente ansiosos, introvertidos, menos produtivos no trabalho. Estas pessoas tem uma tendência a evitar comportamentos de riscos e são mais ligadas às próprias rotinas.
  3. Ciclotimia, que envolve constantes alternâncias entre sintomas leves de depressão e mania, como altos e baixos no humor e nos níveis de atividade. Normalmente extrovertidos e de boa sociabilização, são pessoas que às vezes têm comportamentos de risco, e são imprevisíveis.

O conceito de temperamento foi perdido no século XX, com a ascensão da psicanálise. Desde então, os termos personalidade e temperamento têm sido usados quase como sinônimos. Porém, personalidade era vista como um conceito psicológico, e não biológico, e era relacionado ao desenvolvimento emocional[12]. Com a “redescoberta” dos temperamentos afetivos, diagnósticos de transtornos de personalidade como narcisista, antissocial e borderline podem ter uma nova abordagem.

Insight, ou julgamento em português, é um conceito complexo, que não está apenas relacionado a como o paciente entende a própria doença, mas também a como ele interage com o mundo[13]. Geralmente o insight está preservado na depressão e prejudicado na mania. Metade dos pacientes com mania grave e a maioria dos pacientes com hipomania negam os próprios sintomas[14,15]. Infelizmente existem poucas pesquisas relacionando a falta de insight a crimes, principalmente os crimes financeiros. Podemos entender que indivíduos hipertímicos e ciclotímicos têm uma tendência a ter o insight prejudicado, enquanto distímicos o mantêm preservado. Muitas vezes, pessoas com o insight prejudicado não conseguem enxergar as consequências dos próprios atos de maneira realística.

Os estudos que relacionam questões psicopatológicas a crimes do colarinho branco também são escassos. Os que existem relacionam traços de personalidade por meio do uso do Inventário de Personalidade NEO (NEO-PI). Esta escala avalia os três principais traços da personalidade: neuroticismo, extroversão e abertura para novas experiências. Um estudo na Hungria relacionou estes traços de personalidade aos três principais tipos de temperamento. Este estudo concluiu que extroversão está mais relacionada à hipertimia, e a ciclotimia está mais relacionada à abertura para novas experiências e neuroticismo. Já distimia está mais relacionada a neuroticismo[16]. O principal transtorno de personalidade que se relaciona à corrupção e aos crimes do colarinho branco é o transtorno de personalidade narcisista. Um grande problema com relação a este diagnóstico é a falta de validade, tendo a maioria dos seus sintomas sobrepostos com transtornos de humor e ou temperamentos afetivos. Esta falta de validade ficou bem evidente com a recomendação da retirada deste diagnóstico do DSM-5 pela força-tarefa que trabalhou com diagnósticos de personalidade, mas esta recomendação não foi aceita pelo board da American Psychiaric Association (APA)[17].

Uma revisão sistemática mostrou que pessoas que cometem crimes econômicos têm uma autoimagem inflada[2]. Um estudo de 2003 entrevistou 128 empresários suecos, dentre os quais 55 já haviam cometido algum tipo de crime econômico. Neste estudo os entrevistados responderam a 87 questões. Como resultado obtido a maioria se descreveu como extrovertido e neurótico[18]. Um estudo de caso-controle de 2006 comparou acusados de crimes do colarinho branco com acusados de furtos não violentos, apontando que os acusados de crimes econômicos têm menos risco de abuso de substâncias e transtornos depressivos do que os acusados de outros crimes[19]. Outros estudos demonstram também que acusados de crimes econômicos são mais hedonistas, impulsivos e sociáveis[20]. Se associarmos os resultados destes estudos à questão do insight e aos conceitos de temperamentos – que, do ponto de vista diagnóstico, têm mais validade que a maioria dos transtornos de personalidade –, podemos concluir que pessoas com temperamentos hipertímicos e ciclotímicos teriam mais risco de se envolver em crimes econômicos. Os estudos revelam que grande parte dos indivíduos que estão envolvidos neste tipo de crime são do sexo masculino. Porém, deve-se levar em consideração a grande discrepância entre homens e mulheres que exercem cargos de liderança no mundo dos negócios e na política.  Um estudo entre 2000 líderes das mais importantes empresas mundiais encontrou apenas 1,2% de mulheres entre eles[21]. No Brasil as mulheres representam apenas 9% dos assentos da Câmara e 13% do Senado.

Questões psiquiátricas relacionadas a este tipo de crime específico são pouco estudadas. A relação entre os diferentes temperamentos e as questões legais podem abrir uma nova via de entendimento das causas e fatores de risco para este tipo de evento. Novos estudos são necessários para se entender melhor essa relação, porém a dificuldade de se conseguir uma amostra ideal para isto e um grande obstáculo. É importante entendermos a complexidade deste assunto em vários sentidos, sejam eles sociais ou psiquiátricos. O mais importante é evitarmos a generalização de grupos específicos, sejam eles partidários ou profissionais.

Fonte: Medscape
Referências:

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  5. Cipriani A, Hawton K, Stockton S, Geddes JR. Lithium in the prevention of suicide in mood disorders: updated systematic review and meta-analysis. Bmj. 2013;3646(June):1-13. doi:10.1136/bmj.f3646.
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  9. Ebert A, Bar K-J. Emil Kraepelin: A pioneer of scientific understanding of psychiatry and psychopharmacology. Indian J Psychiatry. 2010;52(2):191-192. doi:10.4103/0019-5545.64591.
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Biópsias de Próstata com Sedação / PAAF

3311-5287 / 3489-0642